quarta-feira, 28 de setembro de 2016

Versões

     Papai é o melhor pai do mundo. Ele é bom comigo. Carinhoso, amável, atencioso. Enche-me de abraços e bonecas. Lê para mim histórias incríveis de bruxos, piratas e fadas. Diz que beija minha testa quando chega do trabalho, sempre tarde. Eu tenho sono pesado, não sinto, mas acredito nele. Leva-me para passear nas pracinhas e me empurra no balanço. Eu o amo. Ele é bom.

    Meu marido é o pior marido do mundo. Ele é mau comigo. Agressivo, rude, bruto. Enche-me de socos e palavrões. Mostra-me meus defeitos e incapacidades. Grita comigo durante a noite, e eu grito de dor. Nossa filha não escuta, tem sono pesado. Leva-me para o quarto e me deixa cheia de hematomas. Eu o odeio. Ele é mau.

quarta-feira, 21 de setembro de 2016

Seus olhos

  Ela tem seus olhos, amor. O mesmo olhar profundo, de azul-mar-infinito, em que se dá para encarar para sempre e nunca encontrar o fim daquela imensidão. Os olhos de quem sabe demais, mesmo sendo tão novo, os olhos que te dão apoio, mesmo sem entender o que está acontecendo. Os seus olhos estão aqui, amor. Nela. E não é só isso.
  Ela também tem o seu sorriso, e creio que terá a mesma risada. Aquele som envolvente e musical, que saía de seus lábios nas horas mais espontâneas.
  Ela me lembra muito você, meu amor. Os olhos, o sorriso. Posteriormente, a risada (tenho certeza).
  Queria que você estivesse aqui. Iria se derreter por ela como eu me derreto. Iria amá-la como eu a amo. Iríamos nos amar como sempre amamos.
  Queria que você estivesse aqui. Queria encarar seus olhos azuis, queria ouvir sua risada poética, queria ver seu belo sorriso, que te foi arrancado tão bruscamente.

  Queria te ver do jeito que era pelo menos mais uma vez. Queria me despedir dos seus olhos e do seu sorriso propriamente.