terça-feira, 28 de junho de 2016

Jon e Charlotte

   Era uma tarde ensolarada e a pequena menina se divertia com seu picolé, sentada no balanço daquela velha árvore. Seus pezinhos balançavam para lá e para cá, seu rosto estampava felicidade e seus olhinhos azuis brilhavam. O sol batia em sua pele clara, transmitindo um calor gostoso. Seu delicado vestido vermelho, outrora arrumado e passado pela sua mãe, agora encontrava-se amassado. E o grande livro do papai encontrava-se em suas coxas. Era um livro grande e pesado, de capa preta com letras douradas. Charlotte ainda não sabia ler direito, mas se sentia atraída por livros enormes e pelas lindas gravuras que alguns continham.                                     
    E ali ela passou a tarde. E quando estava quase anoitecendo, Jon chegou. Ele era uma graça de menino, apenas um ano mais velho que a amiga. Sorriu para Charlotte e sentou-se aos seus pés, para ouvir as histórias que ela inventava. Apesar de sentirem um carinho imenso um pelo outro, as diferenças entre os dois eram gritantes, tanto pela cor de pele, quanto pelas roupas ou gestos. E os pais de Charlotte não suportavam o fato dos dois andarem juntos, enquanto a mãe de Jon era a pessoa mais amorosa da região e estava sempre de braços abertos.

     Os meninos nem imaginavam o que enfrentariam no futuro para superarem os preconceitos e ficarem juntos. Mas, naquele momento, eles só pensaram em aproveitar o pôr-do-sol.  Quando crescerem, hão de se preocupar com o amor. Por enquanto, não há nada que impeça esse amor que só floresce.

terça-feira, 21 de junho de 2016

Você se foi

Hoje eu encontrei um antigo desenho seu embaixo da cama, amor. Você deve ter esquecido aqui quando foi embora correndo. Lembra quando você desenhou aquela bebê sorridente no colo da mãe? Não as conhecíamos, mas você se apaixonou pelo jeito meigo daquela criança sorrir, mesmo sem dente, com as bochechas enormes e o lacinho rosa preso no pouco cabelo castanho. Então você a desenhou porque queria que a nossa filha fosse assim também. A gente nem sabia qual seria o sexo do bebê, mas você tinha certeza que seria uma menina, como essa do parque.
Esse desenho me fez lembrar dos nossos momentos, meu amor. De todos eles. Da sua felicidade ao descobrir que você estava grávida, ao se jogar nos meus braços e me apertar bem forte, com suas pernas balançando e a sua risada contagiante. Das pintas que pintam as suas costas e de como eu gostava de passar os dedos por ela. Da sua respiração calma quando você dormia, o único momento do dia em que você não estava agitada.
Sorrio ao lembrar dos seus passos de dança no meio da madrugada, com um rabo de cavalo mal feito, seus cabelos loiros balançando no ritmo da melodia. De acordar e ver você pintando, usando uma velha camisa minha. Sorrio ao lembrar de você sempre rindo, alegre.
Lembro também dos seus ataques, de você sair correndo de casa na escuridão e eu correr atrás de você, temendo que fizesse algo estúpido. Lembro das lágrimas marcando sua face nos piores momentos. Como na hora que você me abandonou.
Lembro de como você sussurrava "eu te amo" e também lembro da sua voz quando disse adeus.
E eu não queria lembrar da vez que você descobriu que perdeu a nossa bebê. Não queria lembrar do seu desespero, da sua dor. E de como você pegou as suas coisas e partiu, deixando nosso quarto uma bagunça, como se tivesse passado um furacão por ali. Você era o furacão, meu amor. Você bagunçou toda a minha vida, mas eu fui feliz na nossa bagunça, na nossa falta de rotina. Fui feliz com seus cafés ralos, com o peso do seu corpo quando você se jogava em mim, com o seu sorriso, com a visão de você pintando o pôr do sol, deitada na entrada da casa. Você foi embora e deixou para trás nossas lembranças, que tanto me torturam.
Recebi a ligação do seu irmão alguns dias depois de sua partida. Lembra como ele se preocupava com você? E dos churrascos que nós três fazíamos no quintal? Então, ele me ligou. Disse-me que você tinha sofrido um acidente de carro, que você tinha partido de verdade. Eu não consegui acreditar, porque é inimaginável existir em um mundo que você não exista. Eu olho para entrada da casa e você não está lá desenhando o pôr-do-sol. Eu olho para cozinha e você não está lá cantarolando alguma melodia e fazendo seu café horroroso. E não ter você nos meus braços dói demais.
Acho que tem lágrimas escorrendo pela minha face. Eu olho para esse desenho da garotinha e penso como teríamos sido felizes com a nossa própria filha, como tudo teria sido diferente se você não a tivesse perdido, como eu ainda poderia dizer que te amo e você abrir aquele lindo sorriso.

Mas a nossa menina se foi, e você se foi com ela.

terça-feira, 14 de junho de 2016

Mais um dia

Uma garota de cabelos coloridos. Um homem de terno. Um jovem com uniforme escolar. Uma moça loira. Uma idosa e sua bengala. Essas cinco pessoas encontravam-se na estação de metrô, à espera do trem para embarcar, logo na frente da porta. Poderiam passar despercebidas por todos presentes no tumulto matutino das cidades grandes.
A garota com cabelo colorido estava radiante naquele dia ensolarado. Seu namorado voltava de um intercâmbio e ela estava morrendo de saudades dele, relembrando seu cheiro e sua voz. Mal se aguentava de ansiedade para vê-lo e se jogar no seu abraço apertado. Seu sorriso era capaz de iluminar toda a estação, se as pessoas se dignassem a olhar para ela, ao invés de checarem seus celulares e tablets.
O homem de terno estava esperançoso. Tinha certeza que conseguiria um aumento no trabalho, para onde estava indo. Aquele seria um grande dia. Já tinha até reservado uma mesa no restaurante favorito da esposa, para comemorarem as boas novas. Antes do vagão chegar, ele lia a mensagem carinhosa que sua amada havia mandado, desejando-lhe boa sorte.
O jovem que pegava o metrô para ir à escola todo dia estava nervoso. Ele tinha uma prova de matemática para fazer, para a qual ele não havia estudado nada. Mas o garoto parecia tranquilo, como se estivesse pronto para mais um dia entediante na escola, ouvindo um rock pelos seus fones de ouvido e batendo o pé no ritmo da música.
A garota loira estava triste. Ela iria para a casa da irmã contar do falecimento da mãe delas, que havia morrido na noite anterior. Ela não conseguia parar de chorar e algumas pessoas olhavam para ela com pena, porém ninguém se dignou a ajudá-la.
E, por fim, a senhorinha estava transbordando de alegria. Ela ia conhecer seu primeiro neto. Não conseguia parar de falar sobre isso para todos os estranhos que passavam e balançar sua bengala enquanto contava todos os detalhes para os desconhecidos.
Assim que o vagão chegou, essas cinco pessoas aleatórias prepararam-se para entrar. Porém, o que ninguém esperava era que o passo seguinte seria a morte que uniria essas cinco pessoas totalmente diferentes. Em um segundo, tudo estava bem, mas uma explosão sucedeu o próximo segundo. Um clarão foi a última coisa que esses cinco viram, e um som ensurdecedor, a última coisa que escutaram.

Cinco pessoas foram mortas por uma bomba terrorista. Cinco inocentes, sem ligações entre si. Cinco almas com sensações diferentes para aquele dia. Só mais um dia comum. A alegria, a ansiedade, o medo, o nervosismo, a melancolia, a tristeza. Estava tudo ali, e em um segundo, não estava mais. Um segundo foi capaz de apagar todos os seus sentimentos e transformar aquelas pessoas de desconhecidas em mártires. 

quarta-feira, 8 de junho de 2016

As estações

    Eu tive cinco amores durante toda a minha vida.
    O primeiro era o verão. A descoberta do primeiro amor, do primeiro beijo, da primeira vez. Doce e deliciosa como um sorvete. Quando me lembro dele, vem-me à memória nossos passeios de bicicleta com o Sol ardendo em nossas costas. Seus cabelos loiros, quase brancos na claridade ofuscante. Os dias longos, passados com o violão no colo e a paixão nos braços. A praia e os passeios de barco recheados de carícias e refrescantes beijos. Seu beijo era frio, em oposição ao verão. E você foi ficando cada vez mais gelado, enquanto meu mundo ficava mais e mais quente. Até que o choque térmico foi insuportável.
    O segundo era outono. Demorou, mas apareceu. Um relacionamento mais maduro. Mais sério. Quase não havia riso, mas sim cumplicidade, confiança. Meu porto seguro, naquele lago claro, com as árvores secas ao redor. Seus cabelos marrons da cor das folhas que caem nessa estação. Seu humor morno como o café. E seus gestos prontos para o inverno. Você achava que esse seria rigoroso, porém eu não.
    O terceiro era o inverno. Não aquele rigorosamente gelado. E sim aquele capaz de fazer você sair de casa com o casaco, mas mesmo assim sentir o sol acariciar sua pele timidamente. Seus cabelos negros como a escuridão que tomava parte do dia. Nossos diálogos eram insanos, e me esquentavam no frio da noite, assim como você esquentava a minha cama. Gostaria de poder reproduzi-los aqui, porém você era o bom de memória. Provavelmente vai escrevê-los em algum dos seus poemas. Que são lindos, por sinal, só que muitos... Salientes. Dois escritores juntos (imagina se tivéssemos filhos, coitados!) ... Passávamos as tardes gélidas com um café quente nas pernas e cadernos nos braços, naquele velho banco da praça deserta, onde nos conhecemos ao som do U2. Falei muito de você, mas poderia falar mais e mais, pelo fato de nós dois escrevermos demais. Ninguém entende desse espírito mais que você. Porém, você dizia que na alma do escritor é sempre inverno, e eu ansiava pela primavera.
   O quarto era, obviamente, a primavera. Calma e renovadora. E rápida. Dois corações machucados aprendendo a se curar juntos. Uma época de riso e beleza, como as das flores que se abrem delicadamente, assim como nosso amor. Depois, o fim. Rápido, mal deu tempo para aproveitar. Mas era porque um novo ciclo deveria se iniciar.


   O quinto é O amor. A junção de todos. Aquele frescor do verão, o frio na barriga do amor não descoberto. A cumplicidade do outono, o meu porto seguro. A necessidade de calor no inverno, a sensação de alguém te entender completamente. A calmaria e beleza da primavera, a ajuda para o coração. Você é tudo isso, todas as estações, e eu te amarei em todas e em cada uma delas.

Uma pequena introdução

Olá, leitores! Esse é o meu cantinho na internet. Aqui vou expor meus sentimentos, sonhos e paixões através de contos. Os textos não são completamente verdadeiros nem falam de mim diretamente. São escritas criadas de uma alma imaginativa. 
Quero postar um novo conto a cada semana e gostaria muito de ter um retorno de quem ler, seja aqui pelo blog ou nas minhas redes sociais. A opinião de cada pessoa importa muito e eu espero realizar meu sonho com esse blog, então agradeceria qualquer tipo de divulgação. A maioria dos meus textos focam em romance, principalmente os trágicos, mas também escrevo muito sobre as dificuldades que passo de uma maneira até poética. E possuo poucos contos centrados na área do terror. 
Bem, essa é apenas uma pequena introdução e a partir de agora vocês poderão ler só meus contos. Espero que gostem! 
Com amor,
Bruna Freitas