terça-feira, 23 de agosto de 2016

A princesa dos túneis subterrâneos

Há uma antiga lenda sobre uma princesa apaixonada. Ela fugia pelas passagens secretas do castelo no meio da noite, com apenas uma lamparina para iluminar os escuros e úmidos túneis subterrâneos. Tudo porque seu amado era um plebeu e ela era prometida a um galante, porém cruel, príncipe estrangeiro, que selaria a paz entre dois reinos.
Porém, nós não mandamos em nossos corações, e o da princesa Annelise pertencia ao camponês Richard.
O amor deles ainda é celebrado pela nossa cultura, pois por amor eles também encontraram a morte. E o amor deles reinou o nosso país também.
Annelise conheceu Richard quando sua carruagem real quebrou em um passeio pela cidade. O camponês foi quem ajudou a princesa e seu cocheiro. Uma troca de olhares foi capaz de selar o destino dos dois.
Eles acharam que nunca mais se veriam, mas se encontraram no baile de boas-vindas ao príncipe estrangeiro que iria passar uma temporada na corte. O primo de Richard, um guarda pessoal do rei, havia sido convidado e o levara junto.
Annelise era a melhor dançarina e seu espírito alegre e seu lindo sorriso conquistavam todos. E ninguém nega que, apesar de Richard ser bem mediano na dança, os dois possuíam muita química juntos. O ar envolta deles parecia mágico.
Impulsionados pela paixão e pelo desejo, marcaram de se encontrar no lago da floresta na noite seguinte, para onde a princesa ia por meio dos túneis, com uma velha capa cinza para encobrir seu rosto.
Apesar de muitas diferenças (Annelise não compreendia a vida dura do campo e suas dificuldades e Richard não entendia os jogos de poder da corte), o amor entre os dois era muito forte e nada poderia separá-los. Passaram muitas noites se encontrando no lago, porém, certo dia, Annelise descobriu que seria mandada para o país de seu pretendente e se casaria lá.
A princesa cresceu sabendo que o matrimônio era uma obrigação para com seu país e que deveria apenas cumprir seu dever e dar ao seu marido um herdeiro. O casamento de seus pais era exatamente assim e eles mal se viam. Ela tinha apenas que fazer a sua obrigação.
Mas agora ela não conseguia mais viver sem seu amor. Não suportava a ideia de não ter os braços dele ao seu redor e não ver o seu sorriso que amava tanto. Então, eles resolveram fugir.
E por um bom tempo, viveram felizes, isolados em uma casa no campo. Annelise adorava a vida na corte, as festas, as danças, os flertes, os jogos de poder, os vestidos e o palácio. Mas não se arrependia de ter trocado tudo isso por uma calma vida ao lado do homem que amava, mesmo que totalmente diferente da vida que levara antes, sem regalias ou luxo. Eles também tiveram uma linda menina, chamada Anne.
Quando a menina tinha 5 anos, os guardas chegaram e prenderam a princesa, Richard e Anne. Richard foi acusado de traição e perdeu a cabeça. Annelise foi prometida a um lorde que a aceitou, porém morreu de desgosto um pouco antes do casamento. A pequena Anne, uma mistura perfeita dos pais, com os cabelos loiros lisos da mãe e os olhos castanhos encantadores do pai, o nariz fino como o da princesa e o sorriso tordo como o do camponês, foi criada pelos avós que, apesar de não aceitarem a menina como legítima, não optaram pela sua morte por ser apenas uma criança.
Anne cresceu e foi prometida a um lorde qualquer. Deu a sorte de se apaixonar por ele e ele por ela. Quando o avô morreu, o trono não se manteve muito nas mãos do herdeiro, seu tio, que também partiu deste mundo logo em seguida, sem ter tido tempo para deixar filhos. A linhagem da família havia se extinguido, em teoria, por Anne ser considerada uma bastarda. Porém, ela tinha o sangue da família real e reivindicou o trono. Seu reinado foi o mais produtivo de toda a nossa história, apesar de ser marcado de tramas contra a rainha, principalmente por ser uma mulher e ter sido concebida no amor.
Annelise e sua coragem de lutar pelo amado mudaram a história e sua mensagem é clara: nunca desista do amor. A princesa dos túneis subterrâneos continuará tendo sua história contada por muitos séculos e adorada por todo o reino.


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