quarta-feira, 5 de abril de 2017

A vizinha

   Parecia um filme de terror. Uma mulher morreu na casa aqui do lado e ninguém notou, apenas uns vizinhos ficaram incomodados com o cheiro horrível de podre e resolveram investigar. Ela já estava morta há duas semanas e ninguém sentiu falta, quase foi enterrada como indigente. Deve ser horrível ser tão sozinha assim na vida que simplesmente ninguém percebe que você sumiu por tanto tempo.
   Ela morava num casarão, sozinha. Aquele lugar imenso só para ela. Imagino o eco que seus pés solitários faziam no chão.
   Comecei a matutar sozinha a causa de sua morte e um dia verbalizei, perguntando ao meu pai se achava que a mulher havia se suicidado. Veja bem, cabeça de escritor vai longe, já pensei em tudo que aquela mulher podia sentir. Meu pai se espantou com minhas palavras e disse que não. Ela já era uma senhora e devia ter escorregado no banheiro e batido a cabeça. Vou admitir que fiquei um pouco decepcionada. Um morte tão... mundana. Eu, que já havia criado toda uma história para aquela pessoa que nem conhecia não imaginava que ela havia morrido de uma forma tão não-dramática. Eu nem sabia se ela era alta ou baixa, gorda ou magra, negra ou branca, qual era a cor dos seus olhos. Só sabia que ela era minha vizinha e que tinha morrido. Que mundo estranho esse que uma pessoa mora tão perto de você e não se sabe nada sobre ela. Me sinto meio culpada por nunca ter dado atenção para os outros na rua.

   Será que ela tinha um antigo romance? Seria homem ou mulher?  Como fiquei curiosa pela sua vida depois de sua morte. Um fato mórbido, talvez isso mostre o quando eu sou estranha. Todo mundo parece ter esquecido dessa pobre senhora agora que está tudo resolvido e eu aqui continuo pensando em como ela era quando viva. Alegre, resmungona? Será que ela gostava de música para encher o vazio daquela casa tão grande? Será que seu espírito permanece ali, esperando por amor? O lugar me chama, cheio de segredos, mistérios e histórias que eu gostaria de ouvir.

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