Eu sempre tive medo
da morte. Toda experiência que tenho com ela vira obrigatoriamente um texto.
Esse aqui está entalado na minha garganta há meses, esperando o momento certo
para sair. Tive a certeza que precisava falar sobre isso quando fecharam o caixão.
Aquela era última hora de ver o rosto da pessoa amada antes dela partir de
verdade. Ela não estava mais ali, seu espírito já havia partido, mas o fato de
termos algo para nos agarrar, mesmo que seja físico, vazio e que parece falso e
irreal como um boneco de cera, nos faz não querer que aquele último pedacinho
da pessoa se vá.
Quando fecharam o
caixão, eu soube que estava acabado, não tinha mais volta. Não haveria mais
sorrisos, mais abraços, mais olhares. Estava fechado para sempre.
Então, como se não
bastasse essa dor, meu coração se apertou quando o caixão com o corpo daquela
senhorinha simpática entrou naquele compartimento tão frio, cinza, pequeno e
solitário. Então era isso, ela ia passar o resto da eternidade ali, sozinha,
fechada. Tão irreconhecível como os outros túmulos ao seu redor. Ali parecia
que ninguém era especial, que ninguém tinha tocado vidas diferentes. Todos se
misturavam e se confundiam, ninguém se destacava. Ela se tornara apenas mais
uma e isso doía.
Tudo aquilo acabou
comigo. Eu não quero ficar sozinha daquele jeito. Eu não quero ser esquecida.
Não quero me perder no meio de uma multidão morta.
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