quarta-feira, 12 de abril de 2017

Morte, sempre ela

  Eu sempre tive medo da morte. Toda experiência que tenho com ela vira obrigatoriamente um texto. Esse aqui está entalado na minha garganta há meses, esperando o momento certo para sair. Tive a certeza que precisava falar sobre isso quando fecharam o caixão. Aquela era última hora de ver o rosto da pessoa amada antes dela partir de verdade. Ela não estava mais ali, seu espírito já havia partido, mas o fato de termos algo para nos agarrar, mesmo que seja físico, vazio e que parece falso e irreal como um boneco de cera, nos faz não querer que aquele último pedacinho da pessoa se vá.
  Quando fecharam o caixão, eu soube que estava acabado, não tinha mais volta. Não haveria mais sorrisos, mais abraços, mais olhares. Estava fechado para sempre.
  Então, como se não bastasse essa dor, meu coração se apertou quando o caixão com o corpo daquela senhorinha simpática entrou naquele compartimento tão frio, cinza, pequeno e solitário. Então era isso, ela ia passar o resto da eternidade ali, sozinha, fechada. Tão irreconhecível como os outros túmulos ao seu redor. Ali parecia que ninguém era especial, que ninguém tinha tocado vidas diferentes. Todos se misturavam e se confundiam, ninguém se destacava. Ela se tornara apenas mais uma e isso doía.

  Tudo aquilo acabou comigo. Eu não quero ficar sozinha daquele jeito. Eu não quero ser esquecida. Não quero me perder no meio de uma multidão morta.

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