Para C. e para todas as pessoas que tiraram suas
vidas (ou tentaram).
Eu te via pelos corredores, mas eu
nunca sorri para você.
Você fazia algumas matérias comigo,
mas eu nunca conversei contigo.
Seu rosto era familiar, mas eu nem
sabia o seu nome.
E então você se foi, e só assim eu
pude conhecer um pouco da sua história.
E queria pedir desculpas.
Desculpa por não poder te ajudar, por
mais que eu saiba que esse poder talvez não estivesse em minhas mãos.
Desculpa por esse mundo que se tornou
cinza e te sufocou.
Desculpa por não fazermos nada e não
sabermos de nada.
Você simplesmente saiu de sua sala e
desapareceu.
E eu, sem nem te conhecer, me enchi
de perguntas, me tornei mórbida e obcecada por essa pessoa que se foi.
Você planejou tudo ou foi totalmente
espontâneo?
O que você pensou quando saiu daquela
sala? Você já estava decidida? A quanto tempo?
Como estava sua vida? O que você
sentiu em seus momentos finais? Qual foi seu último pensamento? Você hesitou ou
simplesmente se jogou no sopro do céu?
Por que você se foi? Será que você
pediu ajuda e ninguém notou?
Como seria se me jogasse daqui agora?
Como seria sentir o ar frio da noite e ver a morte tão de perto? Será que você
sentiu alívio ou ainda mais angústia?
Eu espero que você esteja bem. E
queria que você visse o quanto sua morte nos afetou. Afetou principalmente seus
amigos mais próximo, mas quem mal te conhecia também entrou em choque. Eu me
perguntei se poderia ter feito algo para ajudar e me senti a pessoa mais inútil
do mundo, e outros alunos e professores desabafaram que também se sentiram
assim. Eu olhei por muitas semanas para os meus amigos, imaginando o que se
passava na cabeça deles, se eu podia ajudar de alguma maneira, se eu podia
salvá-los como eu não pude te salvar. Se eles saíssem da sala, minha
vontade era ir atrás para saber se eles voltariam bem, se eles não seguiriam
seu destino. Eu me angustiei com isso por muito tempo. Eu tive medo que
acontecesse de novo. Eu não quero que aconteça de novo, mas infelizmente eu não
tenho esse controle.
Mas, por favor, me escute, você que
está aí. Talvez eu possa te ajudar. Eu juro que a vida vale a pena ser vivida.
Respire fundo e pense em coisas que você ama. Pense no céu azul, no pôr do sol,
em uma música que te deixe alegre, em um filme que você ame, na sua comida
favorita, em um lugar bonito. Lembre-se que você é amado e que as pessoas se
importam sim com você, por mais que não pareça. Procure ajuda, e seja claro.
Nem sempre somos capazes de perceber que alguém precisa de nosso apoio, mas não
é por maldade. Não tenha vergonha de pedir ajuda. E não desista, você vale a
pena.